sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Palavras sobre a experiencia... Reverberações do silêncio.
09-11-2010 às 9:08 - Comentar
Por Jota Mombaça
A coisa do silêncio e as câmeras de segurança do edifício. Antes mesmo os pés filmados e os passos parando e seguindo, como asas de pássaros que voam e aportam em um ninho onde mal cabem, mas se apertam, sabe-se por quê…
Não cabe saber. “Sinto calor, sinto frio/ nordestino do Brasil/ vivo entre São Paulo e Rio/ porque não posso chorar.” Caetano Veloso, no começo de sua obra, mais ou menos situado no tempo do êxodo nordeste-sudeste, e mesmo um pouco depois, araçá azul, 72, por exemplo, parece nos aproximar do dilaceramento do nordestino migrante perante a cidade (grande) em que chega.
Imagens da PORTAR(IA), olhares sobre o SILÊNCIO.
domingo, 24 de outubro de 2010
sábado, 23 de outubro de 2010
Uma experiência?
A ciência moderna, a que se inicia em Bacon e alcança sua formulação mais elaborada em Descartes,
desconfia da experiência. E trata de convertê-la em um elemento do método, isto é, do caminho seguro da ciência. A experiência já não é o meio desse saber que forma e transforma a vida dos homens em sua singularidade, mas o método da ciência objetiva, da ciência que se dá como tarefa a apropriação e o domínio do mundo. Aparece assim a idéia de uma ciência experimental. Mas aí a experiência converteu-se em experimento, isto é, em uma etapa no caminho seguro e previsível da ciência.
Matéria na Tribuna do Norte
Matéria no Jornal Tribuna do Norte acerca das jornadas da experiencia dramaturgica que será realizada em São Gonçalo do Amarante e em Natal. Fazendo algumas correções em relação a matéria o trabalho não é um experimento, e sim, uma experiência como cito no programa do espetáculo, que chama-se PORTAR(IA) SILÊNCIO, uma experiência dramatúrgica e as apresentações no Teatro Alberto Maranhão aconteceram sempre as 18 hs, abrindo o projeto FIM DE TARDE, a ser realizado no Salão Nobre do Teatro.
sábado, 9 de outubro de 2010
A cidade oceano, o oceano em mim.
Bachelard me conforta:
Quando a insônia, mal dos filosófos, aumenta devido ao nervosismo causado pelos ruídos da cidade, quando, na Praça Maubert, tarde da noite, os autmóveis roncam e o barulho dos caminhões me faz maldizer meu destino de citadino, consigo ver paz vivendo as metáforas do oceano. Sabe-se que a cidade é um mar barulhento; já se disse muitas vezes que Paris faz ouvir, no meio da noite, o murmúrio incessante das ondas e das marés. Com essa banalidade, construo uma imagem sincera, uma imagem que é minha, tão minha como se eu mesmo a tivesse inventado, seguindo minha doce mania de acreditar que sempre sou o sujeito do que penso. Quando o barulho dos carros se torna mais agressivo, esforço-me para ver nele a voz do trovão, de um trovão que me fala, que ralha comigo. E tenho piedade de mim mesmo. Eis, pois o pobre filosófo de novo na tempestade, nas tempestades da vida! Faço devaneio abstrato-concreto. Meu divã é um barco perdido nas ondas; esse silvo súbito é o vento nas velas. O ar em fúria buzina de toda parte. E falo comigo mesmo para me reconfortar: vê, tua embarcação é resistente, estás em segurança em teu barco de pedra. Dorme, apesar da tempestade. Dorme na tempestade. Dorme em tua coragem, feliz por ser um homem assaltado pelas ondas.
E eu durmo, embalado, pelos ruídos de Paris.
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. p. 46.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
PORTAR (IA) SILÊNCIO, uma experiência dramatúrgica
1 JORNADA
LOCAL: TEATRO MUNICIPAL DE SÃO GONÇALO DO AMARANTE.
DIAS: 25, 26 E 27/10.
HORA: 20 hs.
Entrada Franca.
Retirada de ingressos nos dias de apresentação no teatro.
2 JORNADA
LOCAL: SALÃO NOBRE DO TEATRO ALBERTO MARANHÃO (NATAL/RN)
DIAS: 28 A 31/10
03 A 06/11
HORA: 18:00 hs.
Entrada Franca.
Retirada de ingressos nos dias de apresentação no teatro.
Obs.: No dia 06 haverá uma sessão extra as 20 hs.
FICHA TÉCNICA
Criação, dramaturgia e atuação: JOÂO JÚNIOR.
Supervisão artística e roteiro: LUIZ FERNANDO MARQUES.
Direção de video e imagem: LINA LOPES.
Preparação corporal e direção de movimento: JOANA LEVI.
Espaço Cênico: CRIAÇÃO COLETIVA.
Produção executiva (NATAL/RN): MÁRCIA LOHSS.
Captação de imagens (processo): LINA LOPES.
Captação de imagens (Lugares e Não-lugares): JOÃO JÚNIOR.
Captação de áudio e imagens (entrevistas): LINA LOPES.
Assessoria de Imprensa: MICHELLE FERRET.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
O tempo
14´54´´ 56´60´´ 54´21´´ 23´00´´ 21´56´´ 43´54´´ 1981 12´´23´´ 34´´54´´ 31´23´´ 24´24´´
1978 12´´ 23´´ 42´´12´´ 35´03´´ 54´ 32´´ 2008 21´´34´´ 52´´55201´´ 60´21´´ 54´23´´ 12´34´´ 1984 1979 1939 1950 01:35 34´00´´ 1973 45´54´´ 1980 33´22´´ 27.08 06:00 21´09´´ 22:32 2014 23.10 2010 55´56´´ 41´23´´ 14:30 1980 12´23´´ 365 12 30 ...
terça-feira, 14 de setembro de 2010
o encontro
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
o não lugar dentro de mim
Experimento com o espaço a partir de provocações em video projetadas em um tecido que dividia o espaço em dois: o não-lugar, de onde se está, e o outro o lugar de onde se vê. A idéia de não-lugar foi criada pelo antropólogo francês Marc Augé onde ele define o não lugar como um espaço de passagem, diametralmente oposto ao lar, representado por espaços públicos de rápida circulação. Sozinho ou junto com outros o habitante do não-lugar mantém uma relação contratual com estes espaços que é representada por simbolos, como por exemplo, um ticket de metrô, um cartão telefônico, carteira de motorista, etc. No depoimento pessoal presente na construção da dramaturgia deste projeto a ideia de não-lugar está presente não só na perspectiva de vida instaurada após o processo migratório realizado por mim, onde atravessar esta cidade para cumprir compromissos profissionais, bem como, para São Carlos, interior do estado onde oriento o Grupo de Teatro Preto no Branco pelo Projeto Ademar Guerra do Governo do Estado, faz-me ser um ser andante onde muitas vezes, o meu rg é o cartão de débito, o bilhete único do metrô, entre outros simbolos da supermodernidade que caracterizam o não lugar definido por Augé. Passei a existir na vida em trânsito constante. Nos assentos do trem, no metrô, no ônibus a idéia recorrente, as lembranças, os sonhos, os desejos antigos e os novos tomam conta de mim. A pesquisa deste projeto está na vida. A pesquisa é uma escolha por lançar um olhar poético sobre a escolha de ser migrante que optei para a minha existência. Caminhando pelo país, pelo Rio Grande do Norte, pelos mares e ares de Natal, por São Paulo, pelo interior do estado, que é tão diferente da capital, por dentro de mim mesmo tenho descoberto infinitas possibilidades de um existir poético. A poesia tornou-se a casa onde moro, um lugar de resistência a impessoalidade do espaço em movimento. Nesse sentido, este sentimento de não pertencer, de estar na vida em suspenso e de passagem é um estado emocional do migrante, devido ao processo de desterritorialização vivido e pela perda de referenciais geograficos e culturais, onde a ideia de Augé a cerca do espaço fisico (aeroportos, hotéis,...) é desenvolvido na pesquisa dramaturgica do projeto como espaço simbólico localizado no plano subjetivo, no intimo do ser migrante, como provocação para um mapeamento das implicações existenciais detectadas nas narrativas e entrevistas realizadas com os porteiros durante o periodo de coleta destas entrevistas. Um não lugar de dentro. Abaixo seguem imagens do experimento realizado a partir das provocações em video realizadas por Lina, e pelo mapeamento do improviso realizado por mim no espaço e discutido por Joana.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Primeiro risco cênico - do lado de dentro.
Imagens do primeiro risco cênico ocorrido em Natal/RN na sede do Grupo Facetas, Mutretas e outras histórias, durante o evento Gambiarra no mês de junho deste ano. A ideia do experimento era a de investigar o espaço cênico a partir da experiencia vivenciada por mim na primeira entrevista feita com Sebastião de Lima, porteiro e zelador de um condominio em Santa Cecília, São Paulo/SP no mês de maio de 2010. Nesse sentido, a ressignificação do espaço simbólico da entrevista fazia-se necessário dentro de um processo onde os conteúdos narrativos da vida do Sebastião estavam imbricados na fragmentação do seu discurso falado, da relação de poder mantida pela câmera ligada no seu local de trabalho, na próprio desconforto de se sentir invadido naquele não-lugar onde ele passa o dia inteiro. Uma relação de poder estava estabelecida e do lado de cá, eu era o detentor de duas armas poderosas: uma câmera e uma ideia pre-concebida de projeto de vida/artista. Foda-se! Fui implodido pela experiencia, massacrado pelos meus preconceitos... Sebastião, resistiu! E nisso, me mostrou a força que possui os bardos dos migrantes. Seguem imagens do depoimento artistico que transformei esta experiencia. Em breve, seguiram postagens em video.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Um ator migrante
Um ator migrante: o deslocamento de uma visão dramática para um olhar performativo.
João Batista Ferreira Júnior
"Com seus pássaros
Ou a lembrança dos seus pássaros
Com seus filhos
Ou a lembrança dos seus filhos
Com seu povo
Ou a lembrança do seu povo
Todos emigram
De uma pátria a outra do templo
De uma pátria a outra do Atlântico
De uma serra a outra das cordilheiras
Todos emigram
Para o corpo de Berenice
Ou o coração wall street
Para o último tempo
Ou a primeira dose de tóxico
Para dentro de si
Ou para todos
Para dentro de si
Ou para todos
Para sempre todos emigram"
(“O canto do emigrante”, Alberto Cunha de Melo.)
1. O INICIO DA VIAGEM, o processo migratório como dramaturgia pessoal do ator.
O poema de Alberto Cunha de Melo revela a condição humana de emigrante, seja no campo geográfico, no que diz respeito ao deslocamento do lugar de origem para outro lugar onde se acredita encontrar o destino de suas realizações, seja no campo da subjetividade, no rompimento do momento presente em função da construção do futuro almejado, enquanto individuo. “O migrante é um ser deslocado, movido de seu lugar primevo onde nesse deslocamento encontra-se sentido para esta condição” (MARANDOLLA JR & DAL GALLO 2009, p. 01).
A necessidade de trans-migração dos conflitos vividos pelo deslocamento territorial registrados na história de vida presente na dramaturgia pessoal do ator proponente da pesquisa do projeto Inventário, parte do entendimento de que o fenômeno migratório possui implicações geográficas e existenciais, onde tal necessidade reverbera na construção de um discurso poético onde a migração e suas implicações resultem na construção de uma dramaturgia escrita instalada no espaço acerca desse deslocamento. Assim, nasce na memória individual do ator a idéia de migração de uma experiência subjetiva para a criação de um projeto artístico que reverbere as vozes que ecoam na experiência da ruptura territorial com o lugar de origem. Hm, tenho dificuldades de seguir a sua argumentação, parece linguagem de projetos para editais!
Os estudos da memória ocupam um vasto campo de visão (antropológica, historiográfica, sociológica, etc), mas no que interessa a presente pesquisa é a idéia de que “a memória é sempre uma construção feita no presente a partir de vivências/experiências ocorridas no passado” (KESSEL,2003, p. 02). Nesse sentido, as lembranças carregadas pelo individuo em interação com a sociedade tornaram-se material de pesquisa para a construção de uma dramaturgia pautada no recolhimento de histórias de vida de migrantes, poesias, textos ficcionais, depoimentos pessoais e videodocumentais, no afã de dialogar as particularidades da memória individual presente na experiência particular de migração contida na dramaturgia pessoal do ator com as múltiplas vozes que caracterizam a memória coletiva dos migrantes nordestinos radicados na cidade de São Paulo . Transpor o particular para o coletivo, do público para o privado. Ok, as últimas frases foram bem claras.
2. “QUE NORDESTE É ESSE QUE VIVE EM SÃO PAULO?”, recolhendo histórias de vida.
O ponto de partida para a construção da pesquisa acerca da dramaturgia encontra-se no recolhimento de narrativas de vida de nordestinos que moram na cidade de São Paulo, no intuito de responder ao seguinte questionamento: “Que Nordeste é esse que vive em São Paulo?”.
A abstração e amplidão do campo de pesquisa se tornaram um entrave no desenvolvimento do processo. Era preciso um canal mais potente de escoamento das lembranças para a criação de uma tessitura coletiva de narrativas de vida. Esse canal foi encontrado numa verticalização do campo de pesquisa do projeto, onde uma definição mais especifica deste, tornou-se a metáfora necessária para dar vazão as lembranças e construção de uma memória coletiva do grupo de migrantes entrevistados. No caso, porteiros de prédios e condomínios da cidade de São Paulo. Através da metáfora encontrada na profissão, está sendo possível um mapeamento de sensações, situações, lembranças e desejos intrínsecos a condição de migrante, que encontra no silêncio provocado pelo cotidiano de trabalho e na invisibilidade da profissão um espaço fecundo para o mergulho nas lembranças. Nas madrugadas silenciosas e no cotidiano de trabalho onde o porteiro é o responsável pela abertura de um espaço privado para o público, o guardião de um lugar de passagem e deslocamentos diários, a memória é revisitada. A terra de origem se faz presente nas lembranças, o diálogo interno se estabelece. Segundo Haesbert,
... mesmo na condição de migrante, ele não tem certeza se um dia saiu da sua terra, e a dúvida do ficar ou partir é atroz, ao ponto de, no processo de mudança, ele ao mesmo tempo se perguntar se não teria ficado “morto por lá”. Este “levar a terra consigo” ou “ficar (simbolicamente) na terra de origem” envolve todo um questionamento muito pertinente num mundo de extrema mobilidade, de novos nômades, grandes diásporas migrantes, e ao mesmo tempo, de novos/velhos enraizamentos, de defensores ardorosos de seus antigos territórios. (HAESBERT, 1999:1).
No contato com os porteiros a condição de migrante se apresenta em crise com a ocupação do território, e assim, a questão da identidade ocupa o centro das discussões da pesquisa através da memória. Nas narrativas orais dos porteiros é perceptível a crise gerada pela ruptura territorial, e o sonho transforma-se em pesadelo real no contato com uma realidade excludente no processo de inserção no espaço escolhido para viver, onde “a primazia das relações e dos valores sociais está vinculada à acumulação de capital” (HAESBERT, 1999, p.170). Segundo Priscila Marchiori Dal Gallo & Eduardo Marandola Jr.,
Esta mercantilização das relações contemporâneas, onde o processo de desterritorialização original iniciado pelo movimento migratório se dá, em termos existenciais, pela saída do lugar-natal, o que implica deixar os lugares de infância, juventude ou idade adulta, responsáveis pela nossa formação enquanto pessoa e sob os quais está edificada nossa identidade.
É por isso que a desestabilização da ligação essencial do ser com o lugar causa um abalo na segurança existencial e identidade territorial do migrante, que tem de enfrentar um desencaixe espacial. Isso o torna suscetível à angústia e ansiedade, impondo a necessidade de enraizar-se no lugar de destino. A segurança existencial e a identidade do sujeito dependem de que ele estabeleça e cultive laços com o lugar, envolvendo-se com ele (MARANDOLA JR., 2008a). (DAL GALLO & MARANDOLA JR, 2009:3)
Nesse sentido, a insegurança existencial gerada por esta ruptura tem como reação o isolamento e a criação de estratégias de vinculo ao território ocupado que não promovem um sentimento de pertencimento. Estas experiências mostram que o fenômeno migratório possui implicações territoriais e existenciais, onde o enfrentamento provocado pelo desencaixe espacial gera angústia e ansiedade, no processo de filiação territorial. Assim, territorializar-se torna-se um mecanismo de proteção da segurança existencial.
Nas tensões geradas por esta escolha se dá o território de edificação desta pesquisa em dramaturgia. Na memória coletiva dos migrantes nordestinos e na solidão das portarias dos condomínios, ergue-se na dramaturgia pessoal do ator um projeto artístico. Um olhar poético sobre esta experiência pessoal torna-se um procedimento de territorialização, visto que nasce da memória individual de migrante, e mais especificadamente, na história de vida contida na dramaturgia pessoal do ator através do seu próprio processo de desterritorialização. Ok, mas dado o título deste trabalho, sinto falta de um elo retórico com a questão do performativo. O que vc coloca aqui poderia ser muito bem preparação para um trabalho de mimese corporal!
3. A ARTE DO CONTATO, um embate dialético.
O recolhimento das narrativas de vida dos porteiros migrantes do nordeste se dá através do registro em vídeo de uma conversa informal entre ator-migrante e porteiro-migrante. O estabelecimento do contato com os porteiros acontece no decorrer do tempo com a intimidade criada, gerando confiança no projeto para que possam abrir os seus “baús”.
O roteiro para as entrevistas se estabelece no contato, no entanto, algumas perguntas são detonadores para que ambos possam submergir na experiência da memória: “Qual a cidade natal? Como era a cidade quando criança? Como era a vida na cidade de origem? Por que saiu de lá? Por que escolheu São Paulo? Como foi a viagem até aqui? O que pensava durante a viagem? Qual a primeira impressão de São Paulo?. As respostas vêem seguida, geralmente, de uma pausa, um silêncio que grita e salta os olhos de quem as ouve no olhar, e geram, em alguns casos um turbilhão de acontecimentos narrados e em outros um conflito com o passado onde a não articulação da memória, se estabelece na fragmentação do discurso falado. Instaura-se um lugar de conflito gerado por este encontro. Ouvir torna-se um labor indispensável a esta pesquisa.
Tornou-se necessário, de fato, o mergulho na experiência objetiva gerada pela palavra, para que se destruísse um sentimento de manipulação dos caminhos percorridos nas lembranças alheias em detrimento do desejo criativo do projeto. Entrar em contato com o mundo interior do outro é um mergulho na própria existência através da linguagem. Nesse sentido, o “não agir” é algo fundamental para o desenlace das narrativas, dos fatos narrados, das lembranças, onde a escuta torna-se o melhor adubo para o terreno das sensações, do imaginário e das lembranças a serem colhidas. O encontro com o outro é também um defrontar-se consigo.
4. A ESCUTA QUE CONSTRÓI UM NOVO OLHAR, a performatividade do texto verbal.
A escuta torna-se um processo em construção, no qual os encontros com a forma e o conteúdo das narrativas geram diferentes sensações no corpo de quem as recebe. O desejo criativo de que as narrativas possuíssem um desenlace, uma construção organizada no tempo e espaço, na articulação dos personagens que fazem parte da memória do entrevistado através das relações geradas no aspecto intraficcional das narrativas, é fruto de uma concepção dramática já pré-estabelecida para a construção dessa dramaturgia. Nesse sentido, entende-se o drama através de uma visão teatral onde,
O teatro é pensado tacitamente como teatro do drama. Incluem-se entre seus fatores teóricos conscientes as categorias “imitação” e “ação”, assim como a concomitância quase que automática das duas categorias. Pode-se destacar como tema inconsciente, associado à compreensão teatral clássica, a tentativa de forma ou fortalecer por meio do teatro um contexto social, uma comunidade que una emocional e mentalmente o público e o palco.” (LEHMANN, 2007).
Uma visão dramática acerca da dramaturgia é abalada. Instaura-se uma crise: a ruptura de um aspecto performativo das narrativas subordinado ao drama. Nesse contexto, a observação diante da própria situação dramática gerada pelas entrevistas, onde se estabelece um diálogo que tem como fim a resolução de conflitos entre os “personagens reais” daquela situação (entrevista) através de uma troca verbal. O entendimento da palavra proferida sem conexões de tempo e espaço, a fragmentação de acontecimentos, os comentários do narrador diante das situações dramáticas apresentadas, conduzem o processo de entrevista a uma reflexão sobre a linguagem preterida. Um meta-processo se estabelece no intuito de destruir as próprias concepções acerca do processo e da linguagem. O entendimento das narrativas enquanto presentificação, e não como representação, arremessam as entrevistas para a performatividade da fala. Hm, isso são afirmações que vc não fundamenta através de uma análise de um processo de entrevista. Também há de se perguntar como este aspecto performativo sobrevive a codificação das entrevistas em “espetáulo” Segundo Novarina,
Falar não é comunicar. Falar não é trocar nem fazer escambo – das idéias, dos objetos -, falar não é se exprimir, designar, esticar uma cabeça tagarela na direção das coisas, dublar o mundo com um eco, um sombra falada; falar é antes abrir a boca e atacar o mundo com ela, saber morder. O mundo é por nós furado, revirado, mudado ao falar. Tudo o que pretende estar aqui como um real aparente pode ser por nós subtraído ao falar. As palavras não vêm mostrar coisas, dar-lhes lugar, agradecer-lhes educadamente por estarem aqui, mas antes parti-las e derrubá-las. “A língua é o chicote do ar”, dizia Alcuíno; ela é também o chicote do mundo que ela designa.
A palavra de acordo com Novarina é predecessora da linguagem, contém em sim uma potência interior, praticamente mística, visto que ela “existe em nós, fora de qualquer troca, fora das coisas, e até fora de nós” (NOVARINA, 1999). Engraçado que vc cita Novarina cuja linguagem altamente formalizada é tão distante da linguagem oral de memórias pessoais. Nesse embate dialético, desmorona-se os estudos da memória acerca da elaboração do projeto estético, visto que para a memória um dos elementos mais importantes, que afirmam o seu caráter social é a linguagem. Lembrar e narrar se constituem da linguagem. Como diz Ecléa Bosi a linguagem é o instrumento socializador da memória, pois reduz, unifica e aproxima no mesmo espaço histórico e cultural vivências tão diversas, como o sonho, as lembranças e as experiências recentes (KESSEL, 2002).
Os fatos narrados e seus conteúdos se equivalem em importância quanto à forma de contá-los. A recepção das narrativas é interpelada pela forma não linear com que elas são feitas. O papel de condutor da entrevista é transposto, e o narrador torna-se o guia de suas próprias necessidades. A situação presencial das entrevistas transforma-se em conteúdo investigativo quanto à construção da dramaturgia. Nesse aspecto, a palavra contada edificada no âmago das lembranças dos entrevistados, se torna um exercício político ao percorrer o tempo e confrontar-se com o presente num embate com a experiência de ser migrante, onde muitas vezes, o retorno a terra de origem através da memória torna-se catártico, no sentido de uma profusão de lembranças, sensações e sentimentos que não possuem uma trajetória linear.
O contato com o texto verbal, desloca o papel de investigador de conteúdos para a pesquisa acerca da linguagem, e a forma do que é narrado problematiza a formulação dramática entre individuo, ação e diálogo, sendo o interlocutor-entrevistador-espectador um co-ator da experiência alheia, tornando aquela uma experiência própria, a partir do momento que se promove uma intervenção, um chamamento as forças libidinais, emocionais e sociais que constituem o individuo-receptor-pesquisador-ator daquela situação.
A situação representacional das entrevistas, torna-se um campo de pesquisa para a situação representacional a ser criada através da encenação a ser desenvolvida. O resultado de um espetáculo se dissolve no cotidiano do processo de sua construção, tornando o momento do contato com o público parte integrante do processo, e não mais, o fim da linha. O abrir de novas portas. O abrigo de novos olhares. A idéia de encenação é discutida a partir da experiência da recepção proporcionada pelas entrevistas, a interpelação gerada pelas narrativas, desloca o lugar de ator-entrevistador para outros espaços acerca desta pesquisa onde outros territórios precisam ser ocupados pelo ator: o dramaturgo, o encenador, o cenógrafo, enfim, um pensador e criador da experiência pretendida com esta pesquisa em sua amplitude acerca do fenômeno teatral. A experiência do ouvir tornou-se um pensar a cena e a construção da dramaturgia a partir das sensações provocadas pelo encontro com a palavra do depoente. O texto verbal se torna um caminho para a construção de uma dramaturgia onde as vozes dos “migrantes da portaria” ecoem junto a múltiplas vozes, onde o espectador a ser seduzido por este processo-espetáculo seja interpelado em suas forças interiores primitivas, em seus preconceitos, em sua racionalidade, assim como o ator foi convocado interiormente no recolhimento de seu material dramatúrgico através dos diálogos-entrevistas.
A transposição da situação gerada no processo de entrevista para uma situação representacional, onde o aspecto performativo mostrou-se um eco dentro da criação do fenômeno teatral pretendido com o projeto, revirou o entendimento acerca da pesquisa. A destruição de um olhar sobre o processo, com ênfase nos aspectos dramáticos que a cena a ser desenvolvida possa ter, se dá na experiência do próprio processo. Assim, a subjetividade artística, antropocêntrica, é destruída no embate com a linguagem. A experiência gerada pelas entrevistas tornou-se um procedimento para pensar o espaço a ser instalado o texto. No texto verbal criado através das narrativas dos porteiros, foi criado um espaço onde as qualidades corporais, espaciais e temporais da fala do discurso gerou um pensar a encenação como instalação.
O teatro enquanto meio de encenação (da forma dramática) tem como tarefa levar o representado à cena e desaparecer nesta encenação – o teatro enquanto uma situação de instalação, entretanto, torna perceptível o próprio ato da percepção e da recepção. Aqui, o enquadramento é focado e isso faz com que a função poética da língua [...] seja enfatizada em detrimento da sua função denotativa. [...] A instalação da linguagem verbal, seu enquadramento ostensivo, sua exposição ou desemantização, ataca sua função mimética representacional e denotativa, e direciona a língua de modo auto-reflexo para o lugar da fala. A língua enquadrada desta forma segue menos uma ordem semântica do que a dinâmica de uma composição cênica, visual e sonora [para] criar um espaço imaginário que é um espaço criado por vetores energéticos. Um aspecto desta nova concepção de espaço é a idéia de trabalhar com [a exposição das] dimensões corporais, espaciais e temporais da língua. (STRICKER, p. 60).
O olhar estético sobre a representação da cena processual das entrevistas, deu luz a construção de uma dramaturgia que na diversificação de seus processos construtivos, onde depoimentos pessoais, poesia, vídeos-documentais e escrita pessoal servem de detonadores de antigos modos de produção. A percepção do encontro com os porteiros durante seus depoimentos gerou no cerne do processo um olhar dilatado sobre o signo teatral. A construção de um olhar não-dramático sobre a cena, encontrando-se na idéia de teatro pós-dramático a construção dessa pesquisa, torna-se objeto de desejo, um devir necessário a transposição situacional da entrevista para a cena, desta experiência para o espectador. Segundo Silvia Fernandes (2006), em seu resumo crítico sobre o Livro Teatro Pós-Dramático, de Hans-Thies Lehmann citado por Baumgartel (2009, p. 129),
Para Lehmann, o teatro pós-dramático não é apenas um novo tipo de escritura cênica. É um modo novo de utilização dos significantes no teatro, que exige mais presença que representação, mais experiência partilhada que transmitida, mais processo que resultado, mais manifestação que significação, mais impulso de energia que informação.
A reverberação do encontro no campo energético criado entre locutor e interlocutor durante o diálogo registrado em vídeo, se enquadra perfeitamente?? Será que não há uma tensão aqui entre o uso do vida e o encontro presencial no teatro? na idéia de evocação do espectador como co-autor da cena no teatro pós-dramático. O distanciamento dos conteúdos presentes na narrativa, em detrimento da manifestação da forma narrativa utilizada pelos porteiros através do texto verbal e o contato com a câmera em ação no ato do registro do processo, se tornou um exercício de manifestação daquela situação, de evocação das forças internas do interlocutor, um exercício de presentificação, muito mais do que o registro de histórias de vida que pudessem servir a construção de uma dramaturgia pautada nos aspectos dramáticos.
O espaço das entrevistas tornou-se espaço simbólico para pensar a cena e a fruição da dramaturgia, bem como a sua construção, pois ele evocou uma nova percepção acerca da pesquisa, onde a forma, registrada no contato com o outro, torna-se elemento avassalador diante dos conteúdos pesquisados. Um contato com a forma narrativa utilizada pelos porteiros, e sua diversificação, provocou a busca pela criação de “espaços experimentais para percepções não-habituais, porque possibilitam uma nova consciência da situação que o teatro significava, desde já, enquanto prática teatral: o acontecimento de um encontro entre pessoas que apresentam algo e pessoas que assistem algo” (PRIMAVESI, in: ARNOLD, 2004: 9). É, mas o vídeo indica um mediador, alguém cria uma imagem para nós, enquanto no teatro a minha liberdade de olhar é muito maior!
5. MIGRAÇÕES INTERNAS, do representacional ao performativo.
Uma nova visão acerca deste trabalho ergueu-se a partir de um processo de desterritorialização da prática artística e da pesquisa pré-concebida, a partir da desconstrução de uma idéia de identidade. Assim, a prática do ator dentro desta pesquisa torna-se um exercício político na migração dos conteúdos que formam o entendimento de ator neste processo vida/artístico. A migração interna se estabelece como potência reconstrutora da prática artística. Um nomadismo de saberes, experiências e percepção realiza no cerne deste Inventário o surgimento de um “ator nômade”, consciente de sua condição migratória de vida, onde a experiência da inércia artística dá vazão ao movimento. Segundo Maria Cristina da Silva Pereira,
Entendemos por “ator nômade”, o ator que atua na sociedade operando sua criação e construção cênica a partir da desconstrução de uma noção fixa de identidade. Sendo a noção fixa de identidade a que nos referimos àquela que centraliza e asfixia todo e qualquer diálogo com a diferença. Bom poderíamos alertar também ao perigo de diluir, junto com as identidades fixas, as relações de poder! Tudo depende da contextualização que frisa as energias (e as propostas de sociabilidades) que fixam e outras que dinamizam as identidades.
De acordo com os estudos culturais de Stuart Hall: “As identidades, concebidas como estabelecidas e estáveis, estão naufragando nos rochedos de uma diferenciação que prolifera”(HALL, 2005: 44). Entendemos então que o ator tem uma função não só artística, mas também social de extrema importância tanto na construção como na desconstrução de suas práticas e reflexões poéticas, que direta ou indiretamente terminam influenciando o comportamento social e de sua arte enquanto forma de revelação e manifestação simbólica.(PEREIRA, 2008:2)
Dessa forma, na conscientização do papel social do ator a partir das migrações internas de seu processo de construção, destruição e reconstrução artística, apresenta-se o dissolvimento de idéias pré-concebidas acerca do teatro, pautada nos aspectos dramáticos do teatro, no que diz respeito a uma teoria do drama, onde o mover-se nos conteúdos e experiências torna-se um lugar de luta entre o passado e o futuro. O presente manifesta-se no conflito deste processo de territorialização dentro de si mesmo. A pesquisa em teatro proposta neste projeto transmigra-se para uma visão acerca da própria pesquisa da linguagem para o processo de formação de uma identidade em constante processo de construção, coerente com o mundo contemporâneo, onde novas diásporas migrantes se dão a partir do rebelar-se contra o próprio aprisionamento a conteúdos que não mais respondem ao mover-se no tempo/espaço tão característicos da condição de existência do homem contemporâneo. O nomadismo torna-se um ato de resistência, um ato de rebelia contra uma formação artística centrada numa visão antropocêntrica acerca do teatro.
Entre você e o mundo, prefira o mundo.
Franz Kafka.
Bom, João, acho que vc tem um material muito rico! Agora, mas transformar o seu ‘projeto’ em um artigo um pouco mais acadêmico e analítico, vc precisa evitar generalizações. Tem que ser mais específico e fazer algo que chamamos “estudo de caso”. Para isso, não basta falar de modo geral. É preciso elaborar uns paradigmas de análise, aplicá-los ao seu estudo de caso, e depois problematizar os resultados. Entendeu? Mas independente disso, acho a proposta muito interessante. Espero que vc consiga apoio para criar um trabalho teatral!
Nota: A
Referencias Bibliográficas
BAUMGARTEL, Stephan Arnulf. Um teatro contemporâneo como laboratório da fantasia social: alguns apontamentos acerca do teatro chamado pós-dramático. In: Urdimento. n, 09, Santa Catarina: Udesc, 2007.
GALLO, Priscila Marchiori D. & MARANDOLA Jr, Eduardo. Ser Migrante: Implicações territoriais e existenciais da migração. In: VI Encontro Nacional sobre Migrações. Belo Horizonte, 2002.
HAESBAERT, Rogério. Identidades Territoriais. In: CORRÊA, Roberto Lobato & ROSENTHAL, Zeny (org). Geografia Cultural: Manifestações da cultura no espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999.
KESSEL, Zilda. Memória e Memória Coletiva.
LEHMANN, Hans-Thies. Teatro Pós-Dramático. São Paulo: CosaicNaify, 2007.
LIMA, Wlad. Dramaturgia Pessoal do Ator. Pará: 2005.
NOVARINA, Valére. Diante da Palavra. In: Revista Folhetim, n.15,RJ: Funarte/Teatro do Pequeno Gesto, 2002.
PEREIRA, Maria Cristina da Silva. Ator Nômade: Saberes Órfãos. In: Congresso da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas (ABRACE), 5, 2008, Belo Horizonte. Anais...
Um não lugar - a portaria.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Um corpo cheio de olhos e olhares.
Começamos o nosso trabalho com uma apresentação de nossos repertórios a cerca do corpo. Fiz um aquecimento sozinho onde as referências que me acompanham num trabalho de preparação estavam sintetizadas numa sequencia. A partir dela, a ampliação de espaços internos e articulações se deram num primeiro momento a partir do peso do corpo sobre o chão em posições que promoviam torções. Nesse sentido, um trabalho de preparação que realizei num seminário com Danio Manfredinni, ator e diretor italiano, na Casa Laboratório no ano passado. Em seguida, um pouco de exercicios de bioenergetica experimentados em três e anos e meio de investigação em um processo terapeutico, até trabalhar a visão. A grande descoberta: a primeira visão. Entrevistas. Entre-vistas. O trabalho do chão até o plano alto, foi realizado de olhos fechados, quando me coloquei no plano alto, me foi proposto que descobrisse o proprio corpo a partir da visão. O olhar primevo. Um estado medidativo com o corpo no espaço. Meu corpo se desenhando no espaço sem o comando da mente, apenas reagindo ao olhar. Quando me dei conta já estava descobrindo os limites do meu corpo e do espaço a minha volta. A fronteira entre eu e o mundo. Caminhei na corda bamba antes de saltar o precipicio. Quando saltei descobri no espaço e na sua exploração que podia voar. Ocupei, fui ocupado, inseri ao ser inserido, fui e voltei várias vezes. Descobrimos o olhar. Este que há tanto em minha vida se mostra necessário ser desembaçado: terçol, calázio, miopia, óculos, astigmatismo, e por último, ceratite (um arranhado na córnea direita). Talvez, venha daí, o desejo de usar o audiovisual neste projeto. Visto que ele é desejo, e a cada dia, vem se tornando elemento fundamental na dramaturgia performativa que vem se instaurando. Olhar pelo olhar de uma lente como se fosse um espelho dilatando olhares. Meus olhos capturam. Minha mente edita. E eu sou um filme de mim mesmo nisso tudo. Representando a mim na portaria que me encontro.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
fugindo do tema
"Quem te ensinou a nadar
Quem te ensinou a nadar
Foi, foi marinheiro
Foi os peixinhos do mar..."
Estamos chegando...
Eu e Lina.
Viva o reencontro.
terça-feira, 1 de junho de 2010
video - Retrato da Memória
uma proposta de estudo experimental na fronteira entre o audiovisual e as artes cênicas.
Os planos do vídeo se articulam e criam diversas sensações aos expectadores pelo modo como sua composição é escolhida. As cores, os objetos, as texturas, o modo como os personagens estão lá retratados, a música de fundo, as falas e o gestos, tudo é construção de linguagem para levar o espectador as lágrimas, ao riso ou a uma reflexão. Assim também, a memória é, ou melhor, “são”, fragmentos de um cotidiano estranhado e elevado em seu significado a medida que alguém decide compartilhá-la. Ora, o que há de mais natural que a fotografia e o vídeo como apoios para a memória e a saudade?
E o que dizer quando é a saudade e a memória de outro? Pensando nisso, esse pequeno encontro tem o intuito de colocar o vídeo como mais uma ferramenta possível na construção de uma dramaturgia contemporânea em cena, abordando questões técnicas sobre sua própria linguagem e buscando articulações estéticas com a linguagem do teatro.
dias 1 e 2 - os elementos básicos de composição da linguagem audiovisual
exercício 3/9 planos: a partir de uma lista de ações possíveis (ler um livro, escrever uma carta, atravessar a rua, ligar o carro, fazer a mala, etc) os participantes devem fazer um vídeo no "gatilho" (sem edição posterior) contando umas das ações escolhidas por meio de 3 planos, e depois, a mesma ação contada em 9 planos.
1. entender o que são planos e cortes, movimentos de câmera e mise-en-scene, eixo de ação, roteiro, decupagem e montagem;
2. explanação sobre os sentidos humanos e a construção da memória como uma rede neurológica afetiva.
dias 2 e 3 - o documentário e o vídeo retrato
exercício retrato em movimento: a partir de um depoimento recolhido, duplas realizarão a sua refilmagem, atentos aos gestos, falas e respiração do depoente.
1. entender o documentário como um gênero que dialoga com o ficcional;
2. pensar como transformar a identidade de pessoas em um retrato em vídeo.
dia 4 - experimentação final
exercício vídeo em cena: em cima dos "personagens" escolhidos para o exercício do retrato, cada participante escolherá uma das ações do exercício 3/9 planos para fazer uma cena de interação com uma composição de vídeo em tempo real (live cinema).
1. o conceito de live image/live cinema e sua possibilidade de apropriação para a performance cênica.
Lina Lopes
possui experiência na área de artes com ênfase em Artes do Vídeo&Fotografia e Artes do Corpo, tendo estudado e trabalhado com Hugo Rodas, Isabel Teixeira, Luiz Fernando Marques, Zélia Monteiro, entre outros. Atualmente tem se dedicado a aglutinar sua pesquisa em representação do corpo nos meios técnicos como a fotografia, o vídeo e as instalações interativas com a performance.
LOCAL: TECESOL (Sede do Facetas)
Periodo: 09 a 12/06.
Horario: Qua a Sex (18:30 as 22:30 hs)
Sabado (14:00 as 18:00 hs)
Algumas Observações:
1. quanto a quantidade de pessoas e público alvo: creio que umas 12 pessoas no máximo, para haver o maior aproveitamento possível da oficina. Essa é uma oficina para pessoas que atuam no teatro, seja como ator, pesquisador ou técnico;
2. quanto a equipamento: seria muito proveitoso que cada participante levasse seu próprio equipamento de captação audiovisual (celulares, filmadoras, mp3 palyers, câmeras fotográficas) bem como seus respectivos cabos, manuais de instalação e etc;
3. quanto a questões menores como infra-estrutura e outras: um projetor e/ou televisão para a apresentação dos videos, extensões, benjamins, fita crepe, tesoura, barbante, papel, lapis, etc.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Migrações internas.
Cheguei às dezesseis horas de um domingo quente. O calor da cidade apontava a temperatura de meu coração-mundo aqui dentro de mim.
O asfalto quente fumaçava à minha frente. O fétido cheiro do ar empurrava-se narina a dentro. Havia me obrigado o gás carbônico. Tomei o torpor como opção.
Sequei as vias e rachei os lábios numa manifestação carnal de minha alma. Molhei infinitas vezes a boca pensando no beijo ausente que deixei para trás. Enfiei os dedos no nariz e o cinza se fez pele junto a minha. Cinza e sangue. Vida que se expele dentro junto com excremento.
Caminho sozinho no meio do nada. Um escuro repleto de corpos em movimento. Caminho num vão cheio de andares, luzes e alucinações. O vento frio seca o meu suor, e eu tenho seguido caminhando e agradecendo a gentileza do vento.
O vento tem se tornado meu fiel companheiro nessas tardes-noites de solidão. O vento tem cantando ao pé do meu ouvido lindas canções para celebrar comigo este momento-movimento, arrepiando meu corpo, enrubescendo meus pêlos e me sacudindo a todo tempo. Ando me sacudindo sozinho. Venho "tonto de mar" celebrar meu corpo na infinitude do concreto ao meu redor.
Um mar cinza com ondas caudalosas, retilineas e barulhentas quebram dentro de mim. Ele está em fúria com pressa de varrer o inesperado, com urgência de se acalmar. Mas, a tormenta está começando agora. Peguei os remos do barco e com força, que não sei de onde, brota dos meus braços finos fazendo-me vencer a violência das ondas.
A tempestade começou aqui dentro. Os relâmpagos rasgam dentro de mim, enquanto a lua se esconde por entre as nuvens. A chuva está começando e cá estou sem marquise, capa ou guarda-chuva pronto, inesperadamente, para me molhar.
O silêncio tem sido um aprendizado por obrigação. O silêncio, o grande aprendizado da solidão. Ele me faz ouvir o barulho da chuva apontando-se ao longe. Parece aquele barulhinho bom de chuva batendo na telha que eu ouvia quando estava deitado para dormir e chovia, e chovia, e chovia acima de mim. Mas, desde de menino, eu sempre chovi muito.
Pois bem, rainha chuva, aqui estou feito um menino debaixo da bica esperando tomar banho de rei, enquanto um temporal me devasta por dentro.
Bela rainha, Chove! Pois, já estou reinando.
São Paulo.
03:15 hs.
24/08/2008.
Elocubrações na madrugada
Se a presença não mais existe,
Se amar é mover-se,
Se viver é esvair-se no tempo.
Somos imparmanentes como o vento.
Somos um arquivo ambulante de sensações.
O que levamos?
O que deixamos?
Quem somos?
De poeira e chão,
Um pedaço da terra que pisamos.
Um caminho percorrido.
De cada vida,
Somos um verdadeiro,
INVENTÁRIO.
terça-feira, 23 de março de 2010
Uma Carta para Dizer que fui a Guerra
ética de trabalho em grupo se deu através dos três anos de trabalho junto do Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare (Natal/RN). O afastamento do grupo me colocou em contato direto com o caos e a crise tão necessários a construção de um pensamento estético quedespontava no revoar de meus devaneios.
Enquanto vivemos em grupo conseguimos nos proteger nas muralhas que criamos
para sustentar nossas bases. Acredito numa política publica para teatro, consequentemente, num teatro público subsidiado pelo governo. A falta de caminhos para a renovação e alimento para meus questionamentos no Rio Grande do Norte, fizeram-me seguir adiante. Buscar fora das terras de poty água para matar minha sede. Na distância reencontra-se,constantemente, as lembranças.
O exílio é um encontro as avessas com a terra, que até então havia se perdido dentro
de mim. A memória foi o caminho encontrado para sustentar minhas pernas em meio ao
movimento dos carros e sombras dos prédios. A memória de tudo e de todos. A partir daí,surge o desejo de se debruçar sobre os recônditos da memória no afã de revelar “quem somos” nesse país de tantos. A saudade, herdeira da memória, é o sentimento condutor dessa redescoberta de minha identidade. Nasce a idéia de gerar um questionamento mais amplo sobre identidade cultural em conflito com a realidade cosmopolita, através da memória. No campo de estudo da memória, percebe-se a sua importância na formação cultural, nos diz Danilo Santos de Miranda em Memória e Cultura, a importância da memória na formação cultural humana, publicada pela editora SESC/SP em 2008:
... a memória, vincula-se, sobretudo, ao potencial transformador e à apreensão que se faz dos conteúdos propostos, à possibilidade de congregar beleza e crítica, entretenimento e formação de valores.
A cultura não se limita à preservação das identidades e tradições, mas relaciona-se com o modo de integração social e de superação de desigualdades, de autonomia dos indivíduos e das coletividades, no âmbito dos costumes, tradições, idéias e valores, modos de vida, de subsistência e existência. A cultura, continuamente construída, transformada e cultivada, deve considerar o imaginário, a criação estética e a reflexão como bens essenciais à sua formação. Ao mesmo tempo, a memória também se constitui pela interação de aspectos sociais e afetivos.
A memória se constrói a partir de acontecimentos arquivados, sejam eles bons ou
maus, mas sem sombra de dúvida, marcantes. Entender essas marcas pelo prisma da
história real, da formação da nossa identidade através do processo de colonização e
formação desse país iniciado pela região nordeste, dos acontecimentos pós-guerra, do
êxodo rural, do processo migratório em tempos de seca, em conflito com as histórias
pessoais de nordestinos que se afastaram de sua matriz cultural e genealógica é o caminho apontado nesse inventário de impressões descobertas na distância.
João Júnior.
Natal, 24 de Julho de 2009.
03:42 hs.
P.S: Meus olhos estão cheios de areia do mar aguardando o sono para me banhar.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
E o coletivo ia se situando, cada vez mais, como cardume, eram sensações e passos semelhantes que fazia com que, ainda que a vontade de sair existisse, todos ficassem.
“As obras de arte relacional promovem encontros intersubjectivos, cujos significados são construídos colectivamente e não numa esfera de consumismo individual. Ao contrário de uma obra autónoma que transcende o seu contexto, a arte relacional está condicionada ao seu ambiente e ao seu público. A relação obra de arte/espectador sofre uma transformação, no sentido em que o espectador já não observa a obra do exterior, mas passa a integrá-la, inserindo-se no colectivo, criando uma comunidade com carácter temporário ou utópico. A obra, aberta ao espectador, necessita da sua colaboração para se completar. Nicolas Bourriaud, considerado o “pai” da Estética Relacional, refere que não se trata apenas de uma teoria de arte interactiva, mas também de uma resposta à transição de uma economia produtora de bens, para uma economia produtora de serviços ou de pós-produção. É ainda vista como alternativa às relações virtuais da Internet e à globalização, que, depois de terem criado um fosso abismal no contacto corpo a corpo, mais não fizeram do que incitar o desejo de maior proximidade física com o interlocutor. A Estética Relacional desafia-nos a reformular a relação espaço/tempo”. (FILIPA ARANDA, Estética Relacional. Disponível em: http://filiparanda.wordpress.com/2010/01/27/estetica-relacional/ Acesso em: 22.02.2010)
Ana.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
A gente reinventa memórias todos os dias. As nossas e as dos outros.
Às vezes eu tenho a impressão de encarar a realidade sempre diferente, tentando ser sempre quem eu quero ser, nessa busca mesmo. Buscando nos outros memórias nossas e tirando de nós memórias de outros também. Mas elas sempre ficam. Quando a gente não reage conscientemente a isso, o corpo responde, ele lembra. E como ele lembra!
A memória é tão particular, mas as sensações da lembrança são sempre universais, existe sempre identificação. Deve de ser por isso que o cardume, vez ou outra, vira à esquerda e vai em frente, sem tem porquês.
“Eu ainda tô me transformando no que eu quero ser”. Acho que é isso, a gente sempre está.
Começamos a caminhada, com os primeiros passos e cheios de coisas pra lembrar.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Um devir necessário... Um trânsito interior.
Passos alados em busca de companhia.
-Joga as tranças!
Foto: Lina Lopes
Um descanso na loucura.
Minha mala-casa.
Meu sonho de vento.
Foto: Lina Lopes
De onde vim, do mar, já não me cabiam as ondas. As janelas explodiram. Eu chorei.
Foto: Lina Lopes.
As portas estavam fechadas.
Eu perdi as chaves.
Tempo.
Espera.
Na mala? Saudade.
Foto: Lina Lopes.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Terceiro dia de trabalho - imagens
Segundo dia de Oficina
A CURVA QUE TROUXE O VENTO.
Para Potyra e Carol
- Me largaram e nem olharam para trás.
- Estava novamente rodeada por muitos.
- Eu fiquei só...
- Me lembrei do tempo em que andava sozinha.
- Parada...
- Sem fluxo era o meu fluxo...
- A espera do nada...
- Era só onda...
- Eles continuaram seu rumo. A cada passo longe, cresciam, ganhavam força com a distância.
- Procurava fissuras e seguia de encontro a multidão.
- Era só onda...
- Era só onda...
- Até que veio uma curva, e nela, uma alegria...
- uma felicidade instantânea.
- Estão voltando.
- Estamos de volta.
Tudo vem do vento. Para Recy e Alan.
- O vento é único.
- uma massa de ar que corre na direção do nada.
- nada numa corrente...
-correntes que passam...
- de um rio que corre...
- corre junto para um lugar que não existe...
- Existe quando junto.
- Quando junto, é minha memória partilhada. Dói!
- Sou parte de cada um, mas não sou nenhum deles. Caminho só, mas vou junto com eles, lavando meu coração com as lágrimas da partida, porque me levaram junto. Mas, eu fiquei.
Cordão Umbilical
Para Giovana Araújo.
- Cordão umbilical é estar conectado. É ser total no outro. A maternidade é esta conexão para o resto da vida.
- Me cortem esse cordão umbilical. Me joguem um balde de gelo para que possa deixar de me importar com conexões.
- Não há liberdade sozinho. O ar solitário e preso não sente a brisa doce do tempo.
- Meu corpo queima, teima em procurar conexões.
- Respiro em ti, me entrego a ti, sou um pouco mais de mim, em ti.
- Me joguem um balde de gelo!
- Retorno sozinha para dentro de mim, e me junto novamente, sem saber, reunindo os pedaços que se atiraram longe.
O MOMENTO, para Maria Bethânia, Neto Barbosa e Monique Oliveira.
No compasso-não compasso- que o passo vai,
No compasso que vem,
“Tudo” é fio. “Tudo” convexo.
“Tudo” mundo. Todo mundo.
Um universo silencioso e gritante.
Contra ou a favor.
Do olhar dos mínimos que forma “tudo”.
Quanto “tudo” dentro e fora de mim?
E se dentro já for fora? E fora já for mais dentro, ainda?
Memórias...
Pedaços de passado que se fazem presentes.
Nossas marcas.
Em nosso corpo.
E coisas não ditas.
“Tudo ligado como um âmbar elétrico”.
Provocação
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
ATOR-DRAMATURGO, A MEMÓRIA EM NARRATIVA
Periodo: 08 a 11/02/2010.
Hora: 18:30 as 22:30 hs.
Local: Sede do Facetas, Mutretas e outras Histórias