quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Segundo dia de Oficina

"Marquei com meu nego as cinco
Cheguei as cinco e quarenta,
Esperar mais de cinco minutos,
Quem é que aguenta!..."

Adoniran Barbosa

Está dificil começarmos pontualmente a oficina. Acho que o horário de 18:30 hs tem sido complicado para as pessoas. Mas, a demanda da oficina é grande para pouco tempo de trabalho e precisamos seguir firme no esforço com o tempo. Devido ao atraso, resolvi inverter as ações preparadas para o dia de ontem. Começamos o dia reunidos em grupos, e cada coletivo preparou suas estratégias para recolhimentos das narrativas de vida de cada integrante. Grupos se dividiram no espaço, outros fizeram quase um confessionário com fila de espera, já outros permitiram improvisar em cima do momento e registrar o calor da emoção inesperada, enfim, as estratégias e metodologia ficaram a critério de cada coletivo. Percebo que alguns otimizaram melhor o tempo e conseguiram avançar na decupagem das narrativas e das imagens e já criaram um dialogo com o video. Estou empolgado para ver onde isso vai chegar!
Na segunda parte, voltamos a sala para um trabalho corporal, começando pela preparação do corpo e mente através de alongamentos realizados a partir do proprio peso do corpo e do relaxamento das tensões. Em seguida, trabalhamos em base, criando um arco que toca a terra com o proprio corpo ( a cabeça e tronco pesados a frente, pernas flexionadas e dedos das mãos tocando o chão), e a partir daí, fomos encontrar um campo vibracional no corpo provocados pelas tensões. Encontrado o lugar da vibração, relaxar e reclamar em cima dela através da respiração foi o caminho para retornar ao eixo imbuído de um sentimento pleno de presença. Voltamos as caminhas pelo espaço, primeiramente, sozinho, para que depois cada corpo-individuo se encontrasse com outros formando pequenos coletivos. Mais uma vez, o estímulo da caminhada como identidade do grupo procurou ser mantido, criando unidade através do deslocamento. A escolha dos coletivos se deu na noite anterior, quando a partir dos textos criados no primeiro dia pude perceber interseções entre alguns textos, e busquei criar um diálogo entre os abismos de cada um revelado nas palavras transcritas no dia anterior. Desse processo de intertextualização, surgiram os seguintes textos:

A CURVA QUE TROUXE O VENTO.

Para Potyra e Carol

- Me largaram e nem olharam para trás.

- Estava novamente rodeada por muitos.

- Eu fiquei só...

- Me lembrei do tempo em que andava sozinha.

- Parada...

- Sem fluxo era o meu fluxo...

- A espera do nada...

- Era só onda...

- Eles continuaram seu rumo. A cada passo longe, cresciam, ganhavam força com a distância.

- Procurava fissuras e seguia de encontro a multidão.

- Era só onda...

- Era só onda...

- Até que veio uma curva, e nela, uma alegria...

- uma felicidade instantânea.

- Estão voltando.

- Estamos de volta.

Tudo vem do vento. Para Recy e Alan.

- O vento é único.

- uma massa de ar que corre na direção do nada.

- nada numa corrente...

-correntes que passam...

- de um rio que corre...

- corre junto para um lugar que não existe...

- Existe quando junto.

- Quando junto, é minha memória partilhada. Dói!

- Sou parte de cada um, mas não sou nenhum deles. Caminho só, mas vou junto com eles, lavando meu coração com as lágrimas da partida, porque me levaram junto. Mas, eu fiquei.

Cordão Umbilical

Para Giovana Araújo.

- Cordão umbilical é estar conectado. É ser total no outro. A maternidade é esta conexão para o resto da vida.

- Me cortem esse cordão umbilical. Me joguem um balde de gelo para que possa deixar de me importar com conexões.

- Não há liberdade sozinho. O ar solitário e preso não sente a brisa doce do tempo.

- Meu corpo queima, teima em procurar conexões.

- Respiro em ti, me entrego a ti, sou um pouco mais de mim, em ti.

- Me joguem um balde de gelo!

- Retorno sozinha para dentro de mim, e me junto novamente, sem saber, reunindo os pedaços que se atiraram longe.

O MOMENTO, para Maria Bethânia, Neto Barbosa e Monique Oliveira.

No compasso-não compasso- que o passo vai,

No compasso que vem,

“Tudo” é fio. “Tudo” convexo.

“Tudo” mundo. Todo mundo.

Um universo silencioso e gritante.

Contra ou a favor.

Do olhar dos mínimos que forma “tudo”.

Quanto “tudo” dentro e fora de mim?

E se dentro já for fora? E fora já for mais dentro, ainda?

Memórias...

Pedaços de passado que se fazem presentes.

Nossas marcas.

Em nosso corpo.

E coisas não ditas.

“Tudo ligado como um âmbar elétrico”.

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