sábado, 23 de outubro de 2010

Uma experiência?

O PROCESSO, uma experiência
A ciência moderna, a que se inicia em Bacon e alcança sua formulação mais elaborada em Descartes,
desconfia da experiência. E trata de convertê-la em um elemento do método, isto é, do caminho seguro da ciência. A experiência já não é o meio desse saber que forma e transforma a vida dos homens em sua singularidade, mas o método da ciência objetiva, da ciência que se dá como tarefa a apropriação e o domínio do mundo. Aparece assim a idéia de uma ciência experimental. Mas aí a experiência converteu-se em experimento, isto é, em uma etapa no caminho seguro e previsível da ciência.

Matéria na Tribuna do Norte

http://tribunadonorte.com.br/noticia/destinos-migrados/163192

Matéria no Jornal Tribuna do Norte acerca das jornadas da experiencia dramaturgica que será realizada em São Gonçalo do Amarante e em Natal. Fazendo algumas correções em relação a matéria o trabalho não é um experimento, e sim, uma experiência como cito no programa do espetáculo, que chama-se PORTAR(IA) SILÊNCIO, uma experiência dramatúrgica e as apresentações no Teatro Alberto Maranhão aconteceram sempre as 18 hs, abrindo o projeto FIM DE TARDE, a ser realizado no Salão Nobre do Teatro.

PORTAR(IA) SILÊNCIO, uma experiencia dramatúrgica.

sábado, 9 de outubro de 2010

A cidade oceano, o oceano em mim.

Um atrito se apresenta nesta reta final. Como transformar em métafora o corpo juntamente com a imagem? Como atritar a palavra proferida com o corpo em desalinho? Trazer a tona a experiencia da cidade dentro de mim. A experiencia do dia a dia de operário da poesia a olhar o metrô, os transeuntes, o trem, os centros da zona leste, o leste-oeste dentro de mim, o nordeste que vive aqui, os ruídos do mp4 que me auxilia nos labirintos que crio para abrigar os minotauros que alimento são motes para o desenho/não desenho deste corpo no espaço. Um corpo em ruído de criação e expansão. Um corpo dilacerado pela experiencia da migração. Um corpo destruído/reconstruído...
Bachelard me conforta:
Quando a insônia, mal dos filosófos, aumenta devido ao nervosismo causado pelos ruídos da cidade, quando, na Praça Maubert, tarde da noite, os autmóveis roncam e o barulho dos caminhões me faz maldizer meu destino de citadino, consigo ver paz vivendo as metáforas do oceano. Sabe-se que a cidade é um mar barulhento; já se disse muitas vezes que Paris faz ouvir, no meio da noite, o murmúrio incessante das ondas e das marés. Com essa banalidade, construo uma imagem sincera, uma imagem que é minha, tão minha como se eu mesmo a tivesse inventado, seguindo minha doce mania de acreditar que sempre sou o sujeito do que penso. Quando o barulho dos carros se torna mais agressivo, esforço-me para ver nele a voz do trovão, de um trovão que me fala, que ralha comigo. E tenho piedade de mim mesmo. Eis, pois o pobre filosófo de novo na tempestade, nas tempestades da vida! Faço devaneio abstrato-concreto. Meu divã é um barco perdido nas ondas; esse silvo súbito é o vento nas velas. O ar em fúria buzina de toda parte. E falo comigo mesmo para me reconfortar: vê, tua embarcação é resistente, estás em segurança em teu barco de pedra. Dorme, apesar da tempestade. Dorme na tempestade. Dorme em tua coragem, feliz por ser um homem assaltado pelas ondas.
E eu durmo, embalado, pelos ruídos de Paris.
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. p. 46.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

PORTAR (IA) SILÊNCIO, uma experiência dramatúrgica

A primeira etapa da pesquisa está sendo concluída com a temporada da experiência dramaturgica a ser compartilhada entre os dias 25/10 a 06/11 em São Gonçalo do Amarante e Natal, assim como, a abertura do núcleo de pesquisa "Laboratório do Corpo" a ser orientado por Joana Levi (preparadora corporal da pesquisa) e do seminário "dramaturgia da recepção, o lugar do espectador na cena contemporânea" a ser realizado entre os dias 30/10 a 02/11. Nessa etapa da pesquisa a idéia é abrir o processo dessa dramaturgia que tem nas narrativas recolhidas com os migrantes nordestinos em São Paulo o mote para sua construção e pesquisa. A relação com o audiovisual foi o elemento detonador da busca pela fragmentação e performatividade das narrativas, bem como, da proposta sugerida pelo corpo na cena. Um olhar mais aprofundado sobre a relação dos entrevistados com a câmera intermediada por mim, revelou a relação de poder instaurada entre eu, proponente de uma pesquisa, e o objeto desta pesquisa, os migrantes-porteiros. A forma como cada entrevistado se comportou e narrou sua própria trajetória já continha uma reverberação profunda dos conteúdos de vida de cada, por mais, que este conteúdo estivesse sendo revelado entre-palavras, nos intertícios, nas respiração e no olhar fugidio. O audiovisual tornou-se um elemento de aproximação e distanciamento ao mesmo tempo. Distanciei-me num primeiro momento, no tempo do encontro, e me aproximei na solidão das análises de cada um durante as entrevistas. A dramaturgia que está sendo construída, está sendo sim, visto que o processo segue em andamento após esta experiencia de contato com o público, é a busca por entender a migração tambem através da forma que está sendo preterida, do narrativo para o performativo. Da palavra-imagem para o corpo-imagem. Um diálogo direto com o audiovisual como meio de aproximação do universo intraficcional proposto pelas primeiras narrativas apresentadas, bem como de distanciamento e estranhamento no encontro com o corpo-palavra na segunda parte do experimento até a implosão de todos os espaços onde tudo se funde de forma una, e ao mesmo tempo, fragmentada é o percurso dessa dramaturgia . Neste momento, portar o silêncio é fundamental para a construir a polifonia almejada. Acredito no ser migrante como condição sine qua non do viver, desde quando nascemos e migramos heroicamente de um meio líquido para adentrar a jornada do viver, assim como nos lega Joseph Campbell ao falar sobre a saga do herói, e morrer a cada dia até o momento que fazemos a "passagem". Morrer é um ato migratório de fusão ao universo. Senão estamos satisfeitos conosco, buscamos mudanças, migramos internamente de um lugar a outro dentro de nós mesmos. Somos nomades dentro da jornada interior que é o viver. Os deslocamentos territoriais são apenas reverber-ações de movimentos internos. O centro do mundo é o lugar onde se está, já dizia Milton Santos. Nesse sentido, o centro do mundo é construído através do meu olhar sobre aquilo que me envolve. O silêncio da portaria dos prédios foi o lugar que encontrei para ecoar as metaforas e jorrar as lembranças que utilizei para percorrer esta jornada de vida/artistica/processo/ de ser migrante que optei para manter-me vivo.

1 JORNADA
LOCAL: TEATRO MUNICIPAL DE SÃO GONÇALO DO AMARANTE.
DIAS: 25, 26 E 27/10.
HORA: 20 hs.
Entrada Franca.
Retirada de ingressos nos dias de apresentação no teatro.

2 JORNADA
LOCAL: SALÃO NOBRE DO TEATRO ALBERTO MARANHÃO (NATAL/RN)
DIAS: 28 A 31/10
03 A 06/11
HORA: 18:00 hs.
Entrada Franca.
Retirada de ingressos nos dias de apresentação no teatro.
Obs.: No dia 06 haverá uma sessão extra as 20 hs.

FICHA TÉCNICA
Criação, dramaturgia e atuação: JOÂO JÚNIOR.
Supervisão artística e roteiro: LUIZ FERNANDO MARQUES.
Direção de video e imagem: LINA LOPES.
Preparação corporal e direção de movimento: JOANA LEVI.
Espaço Cênico: CRIAÇÃO COLETIVA.
Produção executiva (NATAL/RN): MÁRCIA LOHSS.
Captação de imagens (processo): LINA LOPES.
Captação de imagens (Lugares e Não-lugares): JOÃO JÚNIOR.
Captação de áudio e imagens (entrevistas): LINA LOPES.
Assessoria de Imprensa: MICHELLE FERRET.