PORTAR(IA)
SILÊNCIO, a
jornada é um projeto de
circulação do espetáculo que dá título ao referido projeto nas cidades de
origem dos movimentos migratórios registrados pela pesquisa dramatúrgica da
peça. Nove migrantes nordestinos foram entrevistados para a construção da
pesquisa do espetáculo, que lançava foco sobre a migração nordestina ao sudeste
do país a partir da biografia do artista migrante proponente do projeto na
busca de entrecuzá-la numa cena documental às narrativas de vida de outros
migrantes.
O recorte escolhido para se falar das implicações existenciais de um processo
migratório estava na função social destes migrantes. A metáfora encontrada foi
a das portarias dos aéreos edifícios da capital paulista. Os porteiros
migrantes serviram de matéria-prima para a construção de um processo de
alteridade entre artista e material de pesquisa, que no caso, era o OUTRO.
A projeto tem como bússola o caminho de volta, o retorno, como no mito do
herói que migra, morre-renasce e retorna para transmitir a experiência e
aprendizado. Esta jornada é um projeto de circulação pelas cidades que formam a
dramaturgia deste projeto de vida. No retorno o encontro com os que ficaram. No
caminho de volta o atrito com aquilo que ficou para trás e vive dentro, na
memória e no exercício de identidade e alteridade diante da multiplicidade da
metrópole. Nesse retorno, o encontro com a memória migrante a partir da visão
dos que ficaram. Um trabalho com a memória privada dos entrevistados será o
ponto de partida para a construção de uma vídeo instalação que será aberta ao
público antes das apresentações revelando dentro de uma perspectiva ontológica
o devir migrante a partir da visão da aldeia, da família, daqueles que fazem
parte dos interstícios das narrativas que são contadas na cena. Uma cena de
teatro documentário que se borra na linguagem das artes visuais encontrando no
exercício com a memória um caminho de construção de uma prática artística
pautada no entendimento do homem enquanto ser múltiplo e complexo a partir de
sua condição sine qua non de herói, migrante por excelência.
Nesse sentido, o registro em vídeo das famílias que ficaram e que recuperam nas
visitas anuais, nos telefonemas e cartas a presença dos que desertaram serão
matéria-prima para a construção da videoinstalação, na qual a memória familiar,
a rural, a paisagem afetiva da cidade e seu processo de esvaziamento diante da
urbanização serão um mergulho na saudade registradas nas portas de vidros
guardadas pelos migrantes encontrados na cidade-oceano, a capital paulista.
O que liga? Qual a liga? Quantos países e territórios vivem dentro de cada um?
Qual a noção de nação possuímos? Como construir a partir de uma prática
artística pautada na autonomia e no olhar de dentro da própria cultura um
caminho de construção de uma nova história enquanto nação? São perguntas que
norteiam a proposta desta circulação que encontra na memória afetiva de sua
pesquisa um caminho de encontro com o germe dos movimentos migratórios que nos
formaram enquanto nação. O trabalho com a videoinstalação tem a ideia de um work in progress, visto que a cada cidade, sítio,
casa visitada serão documentadas e recolhidas materialidades que farão parte
dessa instalação, sendo assim, o público que entrará em contato com a obra
também percorrerá a memória desta jornada, pois o material recolhido e
apresentado na cidade se acumula ao material trazido da viagem a cidade que foi
visitada anteriormente. A jornada pelas cidades será parte desta
videoinstalação até que a última cidade visitada, no caso São Paulo, entrará em
contato com todas as cidades percorridas a partir da memória das famílias
visitadas e do registro das apresentações, juntamente com o espetáculo. No fim
desta jornada, será publicado um pequeno diário de viagem escrito e fílmico que
revelará os percalços desta jornada pelo interior humano deste país.
Roteiro de Viagem:
Serrolândia – BA.
João Alfredo – PE.
Orobó – PE.
Martins – RN.
Santa Cruz – RN.
Bom Jesus – RN.
Natal – RN.
São Paulo – SP.