quarta-feira, 4 de agosto de 2010

o não lugar dentro de mim









Experimento com o espaço a partir de provocações em video projetadas em um tecido que dividia o espaço em dois: o não-lugar, de onde se está, e o outro o lugar de onde se vê. A idéia de não-lugar foi criada pelo antropólogo francês Marc Augé onde ele define o não lugar como um espaço de passagem, diametralmente oposto ao lar, representado por espaços públicos de rápida circulação. Sozinho ou junto com outros o habitante do não-lugar mantém uma relação contratual com estes espaços que é representada por simbolos, como por exemplo, um ticket de metrô, um cartão telefônico, carteira de motorista, etc. No depoimento pessoal presente na construção da dramaturgia deste projeto a ideia de não-lugar está presente não só na perspectiva de vida instaurada após o processo migratório realizado por mim, onde atravessar esta cidade para cumprir compromissos profissionais, bem como, para São Carlos, interior do estado onde oriento o Grupo de Teatro Preto no Branco pelo Projeto Ademar Guerra do Governo do Estado, faz-me ser um ser andante onde muitas vezes, o meu rg é o cartão de débito, o bilhete único do metrô, entre outros simbolos da supermodernidade que caracterizam o não lugar definido por Augé. Passei a existir na vida em trânsito constante. Nos assentos do trem, no metrô, no ônibus a idéia recorrente, as lembranças, os sonhos, os desejos antigos e os novos tomam conta de mim. A pesquisa deste projeto está na vida. A pesquisa é uma escolha por lançar um olhar poético sobre a escolha de ser migrante que optei para a minha existência. Caminhando pelo país, pelo Rio Grande do Norte, pelos mares e ares de Natal, por São Paulo, pelo interior do estado, que é tão diferente da capital, por dentro de mim mesmo tenho descoberto infinitas possibilidades de um existir poético. A poesia tornou-se a casa onde moro, um lugar de resistência a impessoalidade do espaço em movimento. Nesse sentido, este sentimento de não pertencer, de estar na vida em suspenso e de passagem é um estado emocional do migrante, devido ao processo de desterritorialização vivido e pela perda de referenciais geograficos e culturais, onde a ideia de Augé a cerca do espaço fisico (aeroportos, hotéis,...) é desenvolvido na pesquisa dramaturgica do projeto como espaço simbólico localizado no plano subjetivo, no intimo do ser migrante, como provocação para um mapeamento das implicações existenciais detectadas nas narrativas e entrevistas realizadas com os porteiros durante o periodo de coleta destas entrevistas. Um não lugar de dentro. Abaixo seguem imagens do experimento realizado a partir das provocações em video realizadas por Lina, e pelo mapeamento do improviso realizado por mim no espaço e discutido por Joana.