terça-feira, 13 de abril de 2010

Migrações internas.

Texto escrito quando cheguei em São Paulo.

Cheguei às dezesseis horas de um domingo quente. O calor da cidade apontava a temperatura de meu coração-mundo aqui dentro de mim.
O asfalto quente fumaçava à minha frente. O fétido cheiro do ar empurrava-se narina a dentro. Havia me obrigado o gás carbônico. Tomei o torpor como opção.
Sequei as vias e rachei os lábios numa manifestação carnal de minha alma. Molhei infinitas vezes a boca pensando no beijo ausente que deixei para trás. Enfiei os dedos no nariz e o cinza se fez pele junto a minha. Cinza e sangue. Vida que se expele dentro junto com excremento.
Caminho sozinho no meio do nada. Um escuro repleto de corpos em movimento. Caminho num vão cheio de andares, luzes e alucinações. O vento frio seca o meu suor, e eu tenho seguido caminhando e agradecendo a gentileza do vento.
O vento tem se tornado meu fiel companheiro nessas tardes-noites de solidão. O vento tem cantando ao pé do meu ouvido lindas canções para celebrar comigo este momento-movimento, arrepiando meu corpo, enrubescendo meus pêlos e me sacudindo a todo tempo. Ando me sacudindo sozinho. Venho "tonto de mar" celebrar meu corpo na infinitude do concreto ao meu redor.
Um mar cinza com ondas caudalosas, retilineas e barulhentas quebram dentro de mim. Ele está em fúria com pressa de varrer o inesperado, com urgência de se acalmar. Mas, a tormenta está começando agora. Peguei os remos do barco e com força, que não sei de onde, brota dos meus braços finos fazendo-me vencer a violência das ondas.
A tempestade começou aqui dentro. Os relâmpagos rasgam dentro de mim, enquanto a lua se esconde por entre as nuvens. A chuva está começando e cá estou sem marquise, capa ou guarda-chuva pronto, inesperadamente, para me molhar.
O silêncio tem sido um aprendizado por obrigação. O silêncio, o grande aprendizado da solidão. Ele me faz ouvir o barulho da chuva apontando-se ao longe. Parece aquele barulhinho bom de chuva batendo na telha que eu ouvia quando estava deitado para dormir e chovia, e chovia, e chovia acima de mim. Mas, desde de menino, eu sempre chovi muito.
Pois bem, rainha chuva, aqui estou feito um menino debaixo da bica esperando tomar banho de rei, enquanto um temporal me devasta por dentro.
Bela rainha, Chove! Pois, já estou reinando.

São Paulo.
03:15 hs.
24/08/2008.

Elocubrações na madrugada

Se pudesses arquivar a saudade,
Se a presença não mais existe,
Se amar é mover-se,
Se viver é esvair-se no tempo.
Somos imparmanentes como o vento.
Somos um arquivo ambulante de sensações.
O que levamos?
O que deixamos?
Quem somos?
De poeira e chão,
Um pedaço da terra que pisamos.
Um caminho percorrido.
De cada vida,
Somos um verdadeiro,
INVENTÁRIO.